12 novembro 2007

O reacionário, o conservador e o indignado

- Com a contribuição de Pedro Figueiredo (PT).

Para iniciar, é preciso delimitar o meio ambiente social no qual atuam as elites políticas brasileiras. Elas ocupam o Poder Público, os bares e restaurantes, as médias empresas locais e as filiais de grandes companhias (nacionais e estrangeiras). Essa classe social (a elite) aproveita "la belle vie" e, como acontece na maioria do território nacional (constituído de "províncias agregadas"), estampa um sorriso "à la Tio Sam" no rosto de que se considera um "bon vivant"; ela passeia de carro importado e vira a cara quando vê uma criança carente e de pés descalços na rua; tem carro blindado e segurança armada; vive em condomínio fechado... ignora a pobreza nacional.

Nesse contexto, operam os reacionários e os conservadores. Os primeiros, agem com o claro objetivo de manter o status quo; contra esses, há pouco o quê fazer, porque são pessoas que têm seus pensamentos estruturados num sistema de crença peculiar. Sim, o reacionário é um crente; ele crê no progresso da tecnologia, na expansão eterna da produção e na exploração da força de trabalho; acredita que é importante a segregação entre as classes, porque disso depende o seu conforto; pode ser racista ou xenófobo, e por aí vai a lista. O engraçado é que esse comportamento do reacionário é alimentado pela omissão do conservador; o segundo é um preguiçoso intelectual e, acima de tudo, comodista; ele parasita o sistema social. De fato, o conservador alimenta-se diretamente da estrutura sócio-política criada pelo reacionário, mas não é um crente; não tem força de vontade; da mesma forma que não luta para mudar o estado das coisas, também não é ele quem age para reafirmar esses tais valores; ele simplesmente espera que os outros lutem por ele, aguardando obter alguma vantagem com isso.

Essa pode ser uma das leituras válidas a ser feita sobre a "exuberante classe liberal" brasileira. E que se diga que o termo "liberal" é aqui empregado em sentido amplo. Sim, porque ser liberal é acreditar na liberdade do indivíduo como sendo valor social primário, nos cânones da Ciência política - daí poder-se afirmar que trata-se de um sistema de crença. Quem é liberal subjuga (teoricamente) a igualdade; coloca o indivíduo em primeiro lugar e, depois, a Sociedade; o liberal vive de acordo com as regras do liberalismo e crê na máxima "quanto mais igualdade, menos liberdade". É egoísta, porque o egoísmo é a base de sua sobrevivência - embora seja a ruína de muitos outros. Acredita na caridade, porque ela retira-lhe o peso da culpa e ajuda a preencher sua vida vazia e obscura - caridade faz bem à saúde e é um complemento às atividades físicas saudáveis e às drogas anti-depressivas, mas não põe fim à pobreza.

É evidente que a falta de mobilidade econômica, a inexistência de uma rede solidária de movimentos sociais emancipatórios ao redor do País (principalmente no Centro-Oeste, Norte e Nordeste) são todas conseqüências da baixa escolaridade em que está imersa a grande maioria da população brasileira, massivamente. Também é claro que existam outros fatores culturais que influenciam a continuidade desta situação, que podem ser facilmente detectados no exame da História nacional. A tradição que corre nas veias das elites políticas brasileiras é a do abuso de autoridade, concentração de terras e riquezas, e de violência na manutenção da pobreza. Não obstante isso, o povo (a grande vítima, a "massa de manobra") continua "gentil e acolhedor", porque, enfim, essa é a condição humana: a imprevisibilidade que faz brotar alegria e fraternidade, donde antes só nascia dor e fome. Quem entende tudo isso muito bem torna-se um indignado...

[Ao meu pai.]

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