11 novembro 2007

O Brasil , a OPEP e o meio ambiente

A descoberta de novas jazidas de hidrocarbonetos no Sudeste do Brasil parece ter elevado a "moral" do Itamaraty além dos limites. Embora as reservas brasileiras em petróleo e gás natural tenham-se elevado em 60%, convém dizer que é demasiadamente cedo para que o Palácio do Planalto arvore-se como membro da OPEP, porque a lógica do mercado de combustíveis demonstra que um grande consumidor (que tem deficit no abastecimento do mercado interno) pode ter dificuldades tremendas de ser um grande exportador e, consequentemente, de conseguir influenciar o preço do crude no mercado internacional.

Ainda, convém lembrar que vive-se num período de peak na extração do petróleo; grandes mercados, como o europeu, já praticam vultosos investimentos em novas tecnologias energéticas, sendo o hidrogênio a verdadeira aposta no médio prazo. O petróleo foi o combustível do século XX, mas a sua extração já atingiu custos que tornam cada vez mais cara a sua extração; seja proveniente dos desertos do Oriente Médio, ou do solo africano, seja retirado das plataformas continentais, o crude tem os dias contatos no que diz respeito ao abastecimento dos grandes centros mundiais. A Europa, por exemplo, já tem vários outros projetos relacionados à produção de energia (eólica, das marés, solar e etc.), tendo desistido de todos os planos de investimento industrial no óleo bruto; o uso do petróleo é condenado pelo excesso de emissão de monóxido de carbono e pela dependência estratégica em relação aos países produtores desse combustível - os europeus procuram fontes de energia limpa e sócio-economicamente viáveis. Por outro lado, os E.U.A. continuam a utilizar o "ouro negro", por disporem de uma estrutura econômica e militar completamente dependente deste produto; anualmente, o sistema financeiro norte-americano dirige uma soma astronômica à "indústria da guerra", tornando possível as ações militares no Oriente Médio, necessárias ao abastecimento energético deficitário yankee.


Dessa forma, a pretensão brasileira - de incluir o Brasil na OPEP - é, antes de tudo, um erro estratégico. Além do mais, a idéia de que o Brasil poderia influenciar uma desejada queda do preço do barril no mercado internacional está limitada pelo crescimento do consumo interno e pela escassez do produto. Entretanto, considerando as últimas altas no preço desta commodity, parece que os economistas brasileiros estão ansiosos em sacrificar o preço dos combustíveis no mercado interno, almejando o aumento das exportações nacionais e, consequentemente, um superavit na balança comercial - o que pode ter efeitos negativos na formação do mercado interno e no crescimento industrial brasileiro.
  • Uma última nota
Festejar o biocombustível é digno de reprimenda. Como bem indicam os analistas, os efeitos nocivos (sociais e ambientais) desse tipo de produção superam as benesses que porventura possam advir de seu emprego. A uma, porque a quantidade de solo requerido para a produção dos mesmos afetará o uso apropriado da área agricultável - gerando mais devastação florestal e acarretando o uso abusivo dos solos. A duas, porque dará continuidade a existência dos latifúndios, fazendo com que a produção agrícola sustentável e minifundiária/familiar seja descartada dos planos governamentais. Finalmente, nenhum país deve apostar numa única via para suprir suas carências energéticas.

Além da combinação de diversas fontes energéticas, de acordo com as potencialidades de cada região, deve-se ter em mente que, um plano global de uso racional da energia tem que levar em consideração tanto o consumo racional e tecnologicamente apropriado (industrial e particular), quanto a limitação dos danos ambientais (potenciais e efetivos) que venham a ser detectados.

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