Desde as eleições recentes (outubro de
2014), as redes sociais têm sido espaço para a verborreia do ódio e do
descontrole, intercalado apenas pelo bom senso de poucos, que tentam
contemporizar e trazer à tona a racionalidade e a cidadania, necessários ao desenvolvimento
pleno da Democracia brasileira. Porém, a Internet tem sido apenas o palco, onde
os personagens multiplicadores desses sentimentos vis e antidemocráticos
funcionam como fantoches de forças e grupos com intensões bem claras, e
objetivos políticos concretos.
Para compreender o "estado da Nação",
é preciso que se reconheça que os ânimos se acirraram, principalmente após a
vitória apertada da atual Presidente da República - legitimamente eleita
mediante pleito eleitoral, por escrutínio secreto e universal. Depois de encerradas as
eleições, ao contrário do que se poderia imaginar - com a reorganização das
forças políticas em torno de questões relevantes e urgentes para o País -,
alguns setores da oposição têm utilizado das funções do Estado brasileiro para
clamar por impeachment - sem que tenha havido, até o
momento, a abertura de qualquer procedimento inquisitivo nos moldes do devido
processo legal - e golpe
militar - sem que se precise dizer que, além de estarem obrigados a respeitar o Estado Democrático de Direito (art. 142 da Constituição Federal), como grupo de cidadãos, os representantes dos altos escalões das Forças Armadas já firmaram posição de respeito à Democracia,
em que pese à dissidência interna (e velada) sobre o tema...
No Congresso Nacional, outro espetáculo: a personificação do ódio e da intolerância nas atitudes reiteradas do deputado federal Jair Bolsonaro, revela o ganho político que os comportamentos das redes sociais fomentam e reproduzem. Tal parlamentar clama, aos quatro ventos, os maiores impropérios contra todos aqueles que colocam em dúvida ou entram em desacordo ao seu "sistema de crenças", chegando a expor (abertamente) comportamento misógino, fundado numa percepção completamente equivocada do que venha a ser um parlamento; em vários episódios como esse, toda manifestação de pensamento contrária desperta, incontinenti, ataques verbais ultrajantes.
Além disso, esses mesmos setores descontentes e seus locutores utilizam-se de adjetivações e imputações criminais ao Executivo da União e até a classificar todos os eleitores do Partido dos Trabalhadores de "criminosos" - caso protagonizado pelo candidato derrotado Aécio Neves -, como se opção política fosse motivo para se imputar conduta delituosa a qualquer eleitor. A escolha democrática tem que ser respeitada, quer seja fundada em interesses materiais conquistados por meio de políticas públicas assistencialistas, quer na ideologia do eleitor (sim, a velha ideologia de esquerda...), quer em qualquer outro motivo emocional, partidário, ou psíquico, ou, ainda, até decorrente da boa ou má formação política e educacional do cidadão.
Além disso, esses mesmos setores descontentes e seus locutores utilizam-se de adjetivações e imputações criminais ao Executivo da União e até a classificar todos os eleitores do Partido dos Trabalhadores de "criminosos" - caso protagonizado pelo candidato derrotado Aécio Neves -, como se opção política fosse motivo para se imputar conduta delituosa a qualquer eleitor. A escolha democrática tem que ser respeitada, quer seja fundada em interesses materiais conquistados por meio de políticas públicas assistencialistas, quer na ideologia do eleitor (sim, a velha ideologia de esquerda...), quer em qualquer outro motivo emocional, partidário, ou psíquico, ou, ainda, até decorrente da boa ou má formação política e educacional do cidadão.
Na linha das conhecidas argumentações
defendidas pelos mais exaltados, segue a retórica da "população
apavorada", no esteio da noção (equivocada e imprecisa) de que o atual
ordenamento jurídico é o instrumento de excelência para a disseminação do crime
e da desordem. Frases soltas, do tipo "Os direitos humanos só protegem bandidos" têm sido veiculadas abertamente, diante de uma população que,
desta feita, por ignorância, desconhece a amplitude conceitual do tema dos
Direitos Humanos - que albergam normas protetoras dos direitos políticos do
cidadão, civis e políticos das crianças, da maternidade, dos idosos, dos
trabalhadores (...) e, sim, dos investigados em inquéritos policiais e acusados
em processos penais. Diante da inapetência do Estado em cumprir as normas
constitucionais que contém as chamadas "sanções promotoras" (conforme
classificação do autor italiano Norberto Bobbio, chamado a explicar sobre os
fundamentos do Estado de Bem-Estar Social), vulgariza-se essa abordagem a respeito da
proteção estabelecida por normas de direito interno e internacional que incidem sobre os direitos e garantias fundamentais da pessoa humana.
Na contraposição a essas pontuações, está
a brilhante defesa do Direito, da Ética e das instituições sociais organizada de forma bastante informal e didática pelo Prof. Haroldo
Guimarães, mestre em Direito Constitucional pela Faculdade de Direito da
Universidade Federal do Ceará. De uma maneira muito gentil e descontraída, os
ensinamentos do Professor são claros: para a boa convivência social, é
necessário um diálogo aberto, amistoso e racional, com o fito de preservação da
malha social. Somente através do conhecimento (não só proporcionado
pela Educação formal ou acadêmica) é que se torna possível uma verdadeira
emancipação social, vez que tanto na política, quanto nas mais simples relações
humanas vigoram as mais intrincadas e sutis emanações de Poder.
Ainda, a História revela que a
personificação e o direcionamento do ódio para grupos sociais específicos
sempre resultou em atos de barbárie e
que, para alcançar esse resultado, os grupos que os disseminavam se utilizaram
de argumentos acríticos semelhantes aos expostos pelos defensores do ódio em Terra
Brasilis. Vale ressaltar que o discurso de ódio sempre irrompe em momentos
de crises (institucionais e econômicas), proporcionando Poder a seus propagandistas.
Valendo lembrar que, em tônica muito resumida, aderir a esta ou aquela
bandeira partidária e ideológica é um dos fundamentos da República; os ataques
aos assim rotulados "comunistas", "marxistas",
"bolivarianistas", "socialistas" e "gayzistas" (sic)
têm se mostrado prática absolutamente intolerante e em descompasso ao
pluralismo político consubstanciado no art. 1º, inciso V da Constituição
Federal. Em outras palavras: ao invés de se construir uma oposição racional às ideologias e percepções de mundo contrárias aos seus interesses, esses grupos que discursam o ódio optam
pela lógica do silenciamento e da censura, por meio da violência, numa sociedade na qual o espetáculo da brutalidade ganha cada vez mais adeptos. Ressalta-se: não é uma violência presumida da qual se fala, mas de uma que se apresenta na forma de violência física, psicológica e político-social, e sobre a qual somente o esclarecimento pode verter alguma luz - num explícito apelo ao modelo mais simples de Estado de Direito, fundado na razão.
Portanto, mesmo que essa parcela "politicamente
agressiva" da população seja inexpressiva, deve-se duvidar que o discurso
que reverbera nas redes sociais não possa encontrar "ouvidos
carentes" e, diante dessa orfandade acrítica, multiplicar-se. Silenciar
diante desses atos significa: (i) tornar esses atores políticos os únicos e
legítimos proprietários das soluções sociais, e (ii) conferir-lhes a atribuição
exclusiva de identificar quais as verdadeiras causas da - e os
(convenientemente) culpados pela - desorganização das instituições públicas e
dos poderes constitucionais. Esse silêncio é, acima de tudo, um ato de omissão
política inaceitável.
***
Em homenagem ao Prof. José Haroldo Guimarães Filho.
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